Não há tempo para lamentar as palavras que nunca me disseste. Não há coerência, ainda que outrora no vazio que pensaste pisar, tivesses julgado sentir. Sentir, o nada que prende tudo aquilo que observaste. Estava longe o dia onde as nuvens se uniam diante ti, embora me tivesses embalado numa melodia diferente, fazendo com que a monotonia se quebrasse, ainda não conseguiste que a virtude chegasse, desta vez, para ficar. O Inverno trouxe o vento que faltava para te sussurrar memorias que esqueceste, trouxe a chuva que perdeste pelo caminho para te atirar com ódios que negaste e por ultimo cobriu-te com o frio, o tal de quem sentiste a falta, cujo nome nunca soubeste pronunciar. Guerras que nunca venceste, o mundo ardia, vias com os teus olhos e deixavas andar como se nada se intrometesse no teu caminho, triste ilusão da qual infelizmente nunca te conseguiste livrar. Foi neurástico, toda a tensão condensada no teu inconsciente, mergulhaste no absurdo e não há salvação, pelo menos, por agora. Estavas ciente de que um dia tudo tinha de terminar, mesmo assim parecia imóvel a tua dor. Não houve tempo para questionar, a saída sempre foi a mesma e esta vez, não seria a excepção, sem nenhuma lamentação da minha parte, do meu lado.
O som que se fez ouvir, um acústico já desafinado, a voz gasta, murmúrios, a respiração de alguém enquanto dormia. Não houve muito mais para além disso, a verdade que te conduziu na eterna procura, mas num impossível achado. O ciclo será sempre o mesmo, correr por um caminho que te levará ao vazio. Guias-te por clichés inofensivos, perdes noções absolutas da realidade onde vives, aquilo a que chamas liberdade não existiu nem sequer num segundo. E… E quando me disseste ‘’estou livre’’, só pude pensar com indiferença no estado lamentável em que te encontravas, na rota que acabavas de traçar, nas escolhas que fazias, sem significado algum, no sofrimento que os teus olhos desenhavam para onde quer que olhassem. Dirigiste-te ao ego, através do qual viajaste ao mais profundo da tua alma e o que sobrou, foi nada. A sombra que até aqui te trouxe viu-te de costas e sorriu. A despedida tornou-se tão fácil, não existem mais palavras para ler. O conceito que guardas daquilo que um dia pensaste ser, não passa de mais um estereótipo no meio de tantos outros que foste idealizando no meio da tua mente confusa e limitada onde só regressões se podem encontrar. Quantas vezes quiseste saber como se podia ler o coração de alguém? Quantas vezes me perguntaste o que seria certo? A morte. Algo mais certo até do que a tua sanidade mental, ou até mesmo mais certo do que a tua própria existência.
Chega de gritos, chega de pensamentos inaudíveis, inalcançáveis e inúteis. Chega de frases pendentes, inconstantes, perdidas e sem significado. Nada do que possa vir conseguirá mudar aquilo que já foi dito, feito, visto e escrito. Dizes hoje, deixaste-o ontem, apagaste-o para sempre, de vez. Finalmente? Talvez o momento fosse agora. E já não estás presente para o encarar, não de frente, contudo também não o conseguirias. Não daria para mais, se a vida tendia em finalizar o golpe com um achado que não especulavas, cujo objectivo seria denunciar aos poucos todos os erros que cometeste. A tua dor sempre esteve fragmentada, as peças que tentaste unir nunca encaixaram visivelmente no ângulo em que as quiseste colocar. No entanto, por detrás sempre te doeu, mas não mais do que a mim. É por isso que hoje te digo, não vale a pena, nem nunca valerá.