Friday, September 17, 2010

Burning.

Hoje a noite está calma, negra e agradável. Deitei-me enquanto te ouvia respirar. Abraças-te toda a minha tristeza, infelizmente não a pudeste levar contigo "... And I'll never be clean again". Nunca conseguirias fazer nada por mim. Ponderei sobre tanta agonia, reconsiderei tantos erros cometidos irresponsavelmente, derivados do sufoco que me causaste. Porque sim. A chuva continuava a inundar o meu pensamento, tantas gotas a cair de uma só vez. Inércia, apatia, indiferença, desleixo, despreocupação, descrença. Mostra-me o horizonte, vejo um traço vazio, desprezo uma suposição de fé. Não há fé. Por entre as árvores, o luar oscila num pensamento perdido entre mágoas, leves e desfocadas, memórias que para lá ficaram.

A vida não te trouxe nada de novo. Perdi o meu tempo, queimei tantas páginas que escrevi, onde podias ter lido o quanto te cinicamente amava. Não há amor, nunca houve, há vazio. A minha voz fez calar a tua, ainda que não tivesse sido necessário gritar. A tua voz nunca falara mais alto, esquece-se no meio do resto. Lembranças que jamais existiriam. Agradeço-te se hoje deslocares esse teu olhar para o fundo do céu, talvez assim encontres tudo aquilo que foste, um desperdício inútil, sem valor. Sei que as tuas capacidades se limitam à insignificância da existência, onde te reges por leis que, julgas tu, não serem impostas pela Ordem. Não há muito mais a dizer, nunca houve. Não quero ouvir uma única palavra nem sentir um único gesto. Por mais banal que seja.

O sol de hoje não queima como nas tardes passadas, a lua não te trará a noite, não foi feita para que a visses sobre ti, há coisas que não irás merecer. Não te irás deitar num campo para ver as estrelas oscilar durante a noite, não é o teu céu, nem foi, nem vira a ser. Quem te garante que a vida é real? Quem te explicou que estás diante daquilo a que chamam realidade? Chamaram-no. Não o provaram. Conformas-te, sujeitas-te. Não quererás morrer sem o ver primeiro, de que te vale isso. Será com antecedência que a obsessão tomará conta de ti, dificilmente te apercebes. Vives aquilo a que chamas de vida. Violaste os princípios da paciência, quebraste tudo aquilo que se poderia tolerar. O dia já terminou, por fim. O elo que ligou o teu inconsciente ao meu vazio, foi tão fraco e efémero que acabou por se dissolver entre suspiros. De nada, suspensos em literalmente nada. Quando me deitei, a respiração que ouvi, quem sabe fosse apenas a minha, talvez tu já nem respirasses ainda que não me tivesse apercebido. Nenhuma diferença me faz. A noite, hoje veio para ficar. Será no meu céu que as estrelas se movem, mortas. And please stop breathing at all, because life's ending tonight.

Tuesday, September 14, 2010

Noite.

Abri a janela e olhei a noite tal e qual como tinha feito no dia anterior. Olhei-a estrela a estrela, sustendo a respiração e admirando cada raio de luar. Nada de novo, a vida não se vê passar a sorrir. Cada passo que dei, ainda que inconscientemente, trouxe-me apenas mais dor. E ainda bem. Sempre me deu prazer, ver aos poucos, lentamente, a deteriorizacao do meu sofrimento. Não beneficiei, antes pelo contrário. Perdi. Perdi aquilo a que um dia chamei de meu, perdi aquilo a que um dia chamei de nada. As falhas que pelo caminho se formaram, os entraves que se opuseram diante mim, de nada valeu. A morte veio mais cedo, antecipou-se. Gosto de saber que a morte é a única coisa certa de uma vida, consequentemente, teremos o fim. De tudo.

Talvez hoje o vento soprasse com menos intensidade, talvez hoje fosse o dia em que deveria soprar com muito mais força. Poderia levar tudo, consigo. Poderia deixar-me a mim, sem nada. A imagem que me quiseste mostrar da tua alma, foi o nada que não soube que existia. Enganei-me ao supor que a inocência e aquilo a que chamei de pureza, viviam contigo enquanto tu não passavas de algo abstracto e inútil. Rondaram-me suspiros, fazia-se tarde sem que se conseguissem entender. Sem qualquer função para que se fizessem ouvir, foram ignorados. Perdidos no vazio, oscilando no horizonte. A janela por onde te avistei, actualmente já não é a mesma que todos os dias abro, com as mesmas mãos, com o mesmo jeito. Se é que algum dia existiu. A luz perdeu-se, não há nada nem ninguém, há algo que tem de ser sustentado. As palavras são fracas, as lágrimas estão ausentes. A morte chegou ontem, o vazio é inconsciente.

Friday, September 3, 2010

Embassy Gardens & St. James