Soube que aquela tinha sido a última vez em que juntos nos
abraçámos envoltos pela multidão onde também começámos. Foi por ali que nos
unimos e será ali que nos tentam separar e esquecer. Sei que por nós ninguém
levantaria uma voz, muito menos avançariam um passo. Sei que, nem por mim nem
por ti, apostariam sequer um suspiro ou uma palavra. Não somos nada aos olhos
da certeza. Nem seremos ninguém ao rumo da sorte, mas já nem o azar nos acolhe.
Perdemo-nos na confusão e no barulho da mesma música repetitiva, cujo tempo já
estagnou e pela criatividade já ausente. A incógnita que questionávamos
desenrolou-se sem que déssemos conta. E agora é tarde? Disseste que os vícios
eram complexos de integração. Disseste que a afirmação de uma vírgula tinha
como fim a atenção alheia. Não pequei, outrora consciente e certa de que
falhavas, assim me mantive. Vives na cegueira da mente. E o paradoxo diz-me que
não tens o domínio daquilo a que chamas vontade, não tens o conhecimento
daquilo a que chamas sabedoria.
Não concordo que seja tarde, porém. Não compreendo a
serenidade do espasmo pelo rancor de uma fantasia passada. O futuro esconde
somente a concretização de um presente desenvolvido. Desdobra, sim, o que
observas por agora. Não perspectives o mundo hipotético onde não estás, não
sorrias por tudo aquilo que podes ter porque não o tens, digamos. Não jogues
com palavras quando não sabes quem te espreita, quando não sabes ser o julgador
que observa e impõe. Fixo a perpendicular, quando voltas a dizer-me ser tarde.
Será então? A manhã passou e apareci depois, como sempre.
Fomos sentar-nos ao sol e ponderar a vida. Sabia que já ali tinha estado com
outro amor a discutir o mesmo. E não adianta. O erro é repetir. O erro é tão só
virar o rosto para olhar igual, forçar o que não é. Sou o refúgio da tua
frustração e já disso não poderás duvidar. Talvez a única coisa certa que ambos
em silêncio sentimos. Passaram anos, e é agora que queres começar. É triste
conjuntamente contigo, concretizar que não tens nada, não temos nada. Aquilo
que construímos foi tão passageiro e pontual que nem somado existiria.
Já não procuro escrever-te grandes parágrafos pois o
argumento pouco mais se estende. Ainda aqui estou mas os textos encontram-se
por finalizar. Pensar e criticar, lamentar e silenciar. São os únicos sinais
que te deixo quando parto. E já há tão pouco para tudo. Não suporto fardos sem
fé. Não conduzo milagres credíveis na ignorância alheia.
E haverá quem queira pôr termo à história? Não duvido que
sim. Se nestas linhas não escreverem, quem sabe não seja permitido. O escopo da
frente diz-me que ainda há mais. Saberia sentir-te se predominasses em mim. Dói
suportar a distância, só que não tolero a tua presença. Não aceito que seja
tarde, não aceito que insistas. Escassos os dias em que te aguardo, ou nenhumas
as horas em que te quero. Apenas desejo aquilo que não posso, e hoje tive tudo
aquilo que não pude. Pelo que podes partir, só mais tarde verás o resto que
tenha de vir a ser escrito.