Saturday, August 30, 2014

Oitava Perda

Sinto-me sem nada.

Tiraram-me a alegria, a paciência, tiraram-me a bondade e a entrega. Tiraram-me vida, porém. É como se estivesse só. E sinto-me como se o tempo estivesse a passar e o resto a por aí ficar, sem noção do que ao certo me rodeia e sem perspectivas de melhores dias, esses que já nem me lembro de como eram. Choro porque fiquei sem nada, sem o mais e sem o menos.

Fiquei sem mente, sem raciocínio, fiquei sem paz e sem calma. Brindam-me todos os dias com as novas vestes, de desassossego, de medo, de receios, de doença, de preocupação, de ameaças, de fraqueza. Perdi-me na dor, não sei mais quem sou porque não me consigo lembrar de quem fui. Procuro-me aos poucos e a memória foi consumida por algo, sem que me deixem conseguir voltar. Embora tente todos os dias ponderar o momento e a direcção. Hoje não sei mais ao que recorrer se não a mim mesma, só que nem assim lá chego. Abaixo do som do vento, palpitam as dúvidas pelo chão que piso, nem esse é certo, nem esse é sólido. 

Tremo de agonia, e enchem-me de ânsia, ora de onde vens tu, inquietação? Não páras sequer para te certificar da minha respiração. Doem-me os olhos, as costas, o estômago, a garganta. Pesa-me a cabeça. Arrasto as pernas, e os pés em conjunto se movem. Apenas a mim. Porquê? Onde fiquei sem que me levassem? Onde posso esperar que retornem e comigo sigam? Se ninguém me alcança, se nada me resolve, no que é que devo acreditar? Alterar o trajecto e falhar vezes sem conta, é como que se me afogasse em tentativas e cada vez fosse mais ao fundo. Estou a perder se se tratar de um jogo, estou a morrer se se tratar de uma vida.


Quedas, bloqueios, risos sem fôlego, prantos sem motivo, as misturas que não prezam pelo bom gosto. Voltei a chorar, voltei a sentir-me sem nada, voltei a ser fraca, impotente, perdida, sem fé, perturbada e incapaz. Há muito que não me conhecia, indo ao fundo, quem sabe procurar a luz. Essa que outrora levou muito até aparecer, agora somente passa e nem sinal deixa. As oposições do destino, as quedas da fortuna. Prendem-me ao passado sem que me consiga lembrar dele, bloqueiam-me no presente sem que no futuro algo possa saber. Confundem-me as leis, vivo em curto-circuito. Deixaram-me pendente, por aqui. E é por isso que me sinto sem nada. Porque me tiraram as horas e os minutos, tiraram-me o sossego e os sonhos.  

Embassy Gardens & St. James