Hoje as notas soaram mais baixo, as palavras não eram tão vastas, o vento não soprava para esse lado, a corrente também não estava nos seus dias. Foi rápido, simples e leve. Não consegui respirar, não consegui ver mais nada a minha frente, foi como se tudo se tivesse apagado para sempre num segundo apenas. Talvez já tivesse dado a uma da manha, ou se calhar já tinham passado as duas, quando esse momento passou, quando estas palavras foram escritas. A melancolia instala-se outra vez, torna-se tão neurótico e ciente, tão certo e tão pobre. Os teus suspiros não se fizeram ouvir. "The moon gave me flowers for funerals to come" - sei que ainda o lembras, embora se torne cada vez mais perdido conforme o tempo passa. Perdido entre sentimentos, perdido entre diálogos, perdido entre outras frases, perdido entre emoções. Continuam a existir doze mórbidas maneiras de morrer, continuam a existir apenas doze medos que me levaram a desejar não viver mais. As vezes a noite quer-se despedir, mas ele não deixa... Tudo se torna negro, tudo se torna nada. Ainda dizem que entre a escuridão há luz, eu também a consigo ver, ainda que não a consiga seguir porque nunca me deixaste abrir esse caminho.
O sonho faz-se ouvir, não foi só hoje, já outrora falára mais alto e alguém o tentou calar. Continuei instável, insegura, inútil. Não da mais para respirar, a lua não chega para iluminar a noite, tudo morre de uma maneira tão bonita, é o momento da libertação, as lágrimas podem ou não cair, mas não mostram o caminho, nem mostram a luz. A queda dá-se aos poucos, a vontade de chorar desaparece, as palavras começam a fluir, apenas os sofrimento continua imóvel. O vazio não desaparece, nem naqueles pequenos momentos em que o preenches. Sentir, unidade. Não... Até hoje. Até quando mais? Não é agora que as almas dançam. Não é agora que as respostas surgem, talvez até a certas perguntas que não fizeste. A morte mente ao nosso lado, o infinito cega-nos a mente, é do céu que vem as vozes, é no céu que conseguimos encontrar o véu negro que nos da aquilo a que chamamos de cor, ao dia. Morte. Não há mais nada certo. O que pensamos ver, é efémero, o que pensamos sentir, é ilusão. Não viemos para ficar, viemos de passagem. Os portões estão sempre abertos, quando me dizes para te deixar ir, sabes que nunca te impediria. Li no teu inconsciente a beleza da alma que trazes contigo, vi no teu consciente a tristeza que todos os dias carregas sem deixar que eu te de, sequer, uma mão. Diz-me, tu, o que é que podemos viver mais certo do que a morte? Diz-me o que é que tanto procuras se eu nunca to consegui mostrar? E por fim, peco-te que não me abandones, sozinha, quando a hora chegar, peco-te que sejas tu a pegar na minha mão e a levar-me contigo. Lentamente. Descendo pelo céu, talvez me ouças chorar o quanto te amo, talvez me vejas sentir o quanto quis de ti. Sei que se o fizéssemos juntos, o fim podia vir a ser feliz. O que é que falta? Neguei-te a eternidade? Sempre ouvi a chuva cair lá fora, sempre a observei da janela, já embaciada, o dia estava cinzento, as poças eram cada vez mais. O que é que importa isso? Não te impediam de chegares a casa.
Tenho insónias, não sinto sono, como em todos os outros dias. Entre as sombras, gostava de me mover, mas para que? Não vou encontrar mais nada. Duas almas, ou três, que podiam, mas não estiveram. Há frases que não se terminam, há coisas, que não se dizem. Os dedos não estalam, está calor hoje. Lembraste? Disseste-me quando estávamos rodeados por pessoas... E eu nunca consegui ver ninguém. Podíamos ter feito tanto, as lágrimas já caiem sem que nada mais aconteça, por detrás das nuvens, já nem sol existe. As almas não dormem, enquanto o vazio não for preenchido, outra vez. Insónias, não da mesmo para dormir, não da para descansar, não da para ver mais nada. Quantas vezes já escrevi estas palavras ao som destes acordes, até te cheguei a dizer que afinal havia solução, que afinal a luz viria amanha. Mas não veio, custa, tanto. E claro que não acendi velas, nunca gostei de remediar. Só ouvia gritos entre a escuridão, literalmente, sim. Talvez porque não havia mais nada para poder ouvir.
O sono parecia vir, mas as horas passavam e o que sobrava era o nada. Dois espíritos, juntos, foi tortura meu amor. Todas as noites te dava a mão, te dizia para apagares as luzes, para estarmos em unidade. Choraste-me no ombro, fiquei estática, imóvel, e desculpa por não te ter limpo as lágrimas. Penso que talvez não valesse a pena, tinham de cair. Disseste-me "foi o melhor de sempre. Obrigado.", sei que foi, e de nada. Talvez amanha as notas soem mais alto e se façam ouvir, talvez amanha as palavras sejam mais vastas e significativas, talvez amanha o vento sopre para o lado certo, para aquele que já devia soprar há mais tempo, talvez também a corrente passe a seguir a direcção certa, aquela com que sonhamos. Aquela primeira vez em que te disse que de facto, te amava "purest sorrow, embrace my soul’’ and now, I can't sleep.
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