Desfruta do vazio, pondera sobre o escape, sente a brisa suave que vem desse rio próximo, de problemas, de análises, de cálculos, de um nada, tão cheio de tudo. Ausência. Questiona a vontade que se prende no saber da mudança, goza da experiência que te faz ganhar a vantagem do saber; saber aquilo que outros não sabem, aquilo que outros nunca viram. Conheces bem a praia onde nos olhámos a primeira vez, agora usufrui desse silêncio, em solidão desesperante e numa agonia constante, cujas marcas, mal ou bem, não hão-de sarar. Quando não se nasce para vencer, vive-se a perder. E eu sabia que ia ser apenas mais um desperdício, e eu sabia que o meu tempo, ainda que em vão, escassa cada vez mais. Ausência. Como é, logicamente improvável, as tuas virtudes inexistentes não alcançarão a meta onde deverias estagnar. Até onde precisarei mais de insistir? Pedir-te em vão que cantes a mesma canção? Eu tenho todos os momentos escritos nas estrelas e um dia estarás de facto, a meu lado, quando nos possamos unir para os ler juntos. E não quero saber aquilo que sentes, aquilo que amas, aquilo de que dispões… Aquilo, ou nem sequer isto que pretendes. Espero por sinais desde há muito, fácil é dizer que se torna tarde para que abras mais uma vez os olhos. Frases e trocadilhos eternamente repetidos. Se vi escassez, agora choco com abundância. Difícil é encontrar a fórmula. A fórmula que permita o aproveitamento deste silêncio, tornando-o produtivo.
Não mais que regalias, não mais que a mera ausência. Ouço o relógio todas as noites, torna-se insuportável dormir, esquecer que foi uma hora e vinte e três minutos, da manhã. Se bem que, desde há muito, que só essa hora conduziria ao verdadeiro sentido. Acordar e abrir os olhos, se não podemos fugir daquilo que já traçámos, será suposto que o meu mundo destrua o teu? Sublinha, ausência. É suposto que assim seja. Ausente, e estilhaçados os vidros, rasgadas as cartas, esquecidas as memórias, retalhadas as fotografias, queimados os beijos, desprezados os momentos, destruídas as vozes, odiadas as noites, degradados os sonhos e mortos os desejos. Esqueci os objectivos, perdoei os erros, calei as tentativas e não digas basta porque irei sorrir. Dizes um todo que perdeste com um olhar, tal como o fizeste da última vez em que te encarei. Ausência, apenas. Não tens absolutamente nada, nem sequer um bom dia ao acordar. A tua vida fora esquecida numa maré sem retorno. Pena é, não te poder ter comigo, pena é, não poder voltar a estar contigo como naquela noite em que apenas a natureza nos rodeava, noite essa na qual me disseste que preferias não ter vindo ao mundo se não me tivesses conhecido. Pena será, contar os dias, até ao pôr-do-sol. Horror é saber que morreste em ti para nascer em mim e agora jamais poderás voltar atrás. Ausência. E foi tudo tão ausente. Triste e sufocante ausência. Dói saber que o li, dói saber que a meta será sempre acima e o alcance apenas e somente ausência, puramente compreendida sem refúgios em delírios triunfantes e indignos, qual sabedoria inútil posterior ao pecado. E tu não vais chorar novamente, ainda que a música volte sempre a ser ouvida da mesma forma, porque já pouco ou até mesmo nada restará. Ausência, constante e simples.
Nunca estiveste comigo, a tua voz cada vez menos presente. E se vim ao mundo para perder, então não nasceria para vencer. Lutas inofensivas, conversas inacessíveis, se há compreensão, há consequente repreensão. E chega de vez, basta partir. Chega de condenações consecutivas, banais, ridículas. A revolta já não será comigo. E ele amava-me. Pois tanto. Mas não está aqui para o dizer, hoje, que me ama. Onde há harmonia? Onde terá ficado a estabilidade. Existe. Fio oculto, cujo fim não é de todo para o Homem. Atrás de mim há, ausência. Doce vida amarga, imbecil pessoa que o foste ditar a outrem. A graça dos teus dias, o pouco que por aí vi, o nada que de ti transparece. E foi tão fácil perceber. Como sorris com tantos remorsos? Como sorris imundo em podridão? Como sorris ao estar sozinho no mundo? Como consegues respirar se sabes que nem sequer isso te pertence? O teu vazio, a tua falta de essência humana. E és a pessoa que tanto amei, se foram tantos anos de pura mentira, porque não procurar afundar a divergência. Ausência. Contínua e inerte ausência. Foste criado, embora certamente para me amar, para viver de olhos cegados ao bem, fixados na doença e desejados para a tortura. Não há luz, há ausência, porque tu não estás aqui, nunca estiveste, nunca estarás, nunca se proporcionará, o fim de algo que não começou, o eterno retorno ao destino escrito, tão ausente e tão confuso, onde nada mais se encontra, apenas ambas as nossas almas estagnadas e cansadas, de tanto sofrer para nada ter.
Vou ter tantas saudades tuas, se o leste aqui e agora, lembra-te disto, sempre, por não voltarmos a voar naquele céu, por saber que as memórias sempre me dificultarão os dias e me deixarão ausente durante todas as noites. Enquanto as lágrimas caiem por já saber, e não viver na ignorância, de que nunca mais te poderei ver, com estas mãos que te tocaram, sentindo-te até ao teu próprio ser. Não hei-de aguentar, a ficção emociona, embora seja tão ausente, esta cá tão implicitamente. Aceitaste-me, agora demonstra-o, com ou sem vastos sinais, mas não demores uma vida, porque a ausência persegue e não me deixa dormir. Deixa de ponderar, sobre se há ou não um vazio, se tanto te disse que mais completo que o meu todo, não poderás nunca encontrar. E esse teu escape, que chegue apenas para quebrar rotinas, se me tão bem conheces, saberás que as coisas só o serão para evoluir. Problemas terminarão no dia em que tudo volte, tudo volte amorosamente, o amor que tão ausente se vê, se lamenta e se sente. Ausência, é apenas isso que chega. Ausência, ausência, ausência, num universo que tão pendente se encontra, num tão ínfimo ciclo. Ausência, é então e somente aquilo que apenas desejo que fique, por aqui e de vez, para sempre ausente.
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