Tanta ânsia em ler mais? É tão bonito quando se chora, quando tens a tua própria lágrima a cair, assenta a desejada materialização de um sofrimento interno ao qual jamais outrem poderia chegar. Sabes que o ar não chega para sustentar essa respiração de que precisas, por isso mantêm-te, mantém-te deitado e talvez um dia percebas que olhar o infinito te pode guiar a vida, a vida que não tens, não sendo necessário continuar sequer a respirar. E se as tuas lágrimas tendem em continuar a cair, nada mais poderás fazer para as parar, porque o dia continua a tardar em chegar, porque a vida cada vez perdoará menos, pouco mais ou nada falta para que o último escape traga a prova. E eu que não te vi vez nenhuma, sei melhor que hoje e melhor que ontem, o quanto seria bom viajar nos teus braços, não te tendo, não te sabendo, não te dizendo de cor o meu nome, não provindo dessa verdade que desconheces, sabendo apenas que nada por nada me mencionará. Não me hás-de guiar neste mundo, nem me hás-de guiar na morte. Por favor te peço apenas que continues a dar luz à minha alma, essa alma que será eterna, tanto numa só vida como nesse ponto final que cá estará para todo o sempre.
Deitar-me no chão e olhar o tecto, enquanto me poderia deitar bem e lá fora, vendo o céu, tu e eu, somente tu junto a mim e eu junto a ti. E enquanto a vida passa, passam os momentos e nada mais ou pouco mais nos resta, restará na certeza da vastidão. Embora fosse melhor aproveitar o dia, se for O dia… Porque no dia em que o dia for apenas o último, não raro, mas único, e a noite já for a morte, há-de cheirar sempre a escuridão e nessa escuridão que é tão imensamente intensa, pondera que eu apenas me consiga perder se estiver sozinha. Estas palavras quer tu as leias, ou quer não, escrevi-as sozinha, cantando, reflectindo, olhando um chão vazio que podia ser o mar tranquilo que olhámos juntos. Aquelas noites, em que vi a lua, em que vi todo um luar sobre a água, enquanto dávamos as mãos, e agora… Simples, se não há mais nada. Se é que algum dia houve. Acho que nunca te conheci, acho que tu nunca soubeste a minha verdadeira essência. E pensar que um dia fomos um só, se nunca passámos de uma metade estagnada. As minhas mãos estão gastas, a cabeça não consegue mais pensar, traçaste em meus olhos esse caminho que nunca ambicionaste percorrer, agora só há puro vazio e de seguida inerente virá a habitual solidão, proveniente de uma origem tão horrível quando dói tanto apenas um mero sorriso.
Dói tanto aquando o passar do vento, o vento que passa e confirma que todas as noites são iguais. A música é sempre a mesma, insistente; a morte que teima em chegar implicitamente, mas que ainda não chega. Não chegando, por fartura de inércia, se o tempo é tão escasso, numa vida que possui um fim tão certo e enquanto por aqui me deito e me mantenho, apenas soletrando estas palavras, poderíamos estar juntos, talvez tudo pudesse ser tão melhor. E não é, são memórias desgastantes todos os dias, e todos os dias, és tu que estás no meu pensamento; és tu que eu vejo, tão longe, se sempre estivemos tão juntos e o tempo passava. Nós estávamos, longe tão perto, sendo que agora sinto esse tão longe numa distância fortemente distante, e nessa distancia tão distante, o que há mais? Deixaste-me sozinha, não há força que aguente mais o estar aqui sem ti. O meu corpo paga o que o coração vazio traça. A noite não perdoa, não deixa dormir, trás tudo de volta: imagens, sensações, o brilho que os meus olhos tinham, esse brilho que tu levaste com tanta pressa numa amarga corrente de teimosia.
Porque é que tenho de escrever estas palavras? Tentei gravá-las na tua própria pele, confesso-te. Agora não há nada, por isso, o que mais importará ou te poderá importar? É a conversa sempre igual, cheia de nadas, refeita em mágoas e isolamento, adoptando um círculo vicioso do qual há anos não se consegue desprender. Horror, desespero. E ainda te ris, ris-te quando te digo que escrevo sobre a morte. Então? E é assim. Ri-te, enquanto a vida te dá férias. Gostas assim tanto de sorrir? Eu também gosto. Gosto tanto de me rir e de sorrir. Problema teu será o facto de que as palavras sobre a morte, das quais falo e volto a referir despedidas, irão durar para sempre. Para todo o sempre, alguma marca ficará desta eternidade subjacente, quer queiras, ou quer não queiras. Talvez porque o seu significado para sempre perdurará vinculado.
Ponderando sabes, que o teu sorriso, esse teu sorriso tão apagado, tristemente gasto, tipicamente falso, habitualmente penoso e ridiculamente cínico, apenas durará enquanto o teu miserável coração continuar a bater. Porque no dia em que tudo pare e no dia em que tudo desapareça, finalmente o teu forçado sorriso, que aconteceu apenas num só momento, por aí se findou, ficando extinto para todo o sempre. Horrível não é, mas as minhas palavras sobre a morte cá estarão (nem a tua existência é suficiente para as eliminar) para que outros as leiam, relembrando tudo aquilo que te ensinei e que ficou para trás. Para que outros se possam também deitar sobre elas, mas que, ao contrário de ti, não vão adormecer na ignorância consecutiva a uma limitação literal. Saber que de futuro também será a sua vez, os acordes já gastos e a voz rouca, para que se pouco ou nada há a dizer, improviso este que poderia ser levado até à eternidade e que infelizmente algum dia se calará, visto que a Natureza assim o ditou. Ascende, levanta-te erguendo esse pulso que tantas vezes soubeste acordar, para afirmar uma identidade que não tinhas. Se bem que se agora o pudesses fazer, acredito que nesse teu eu inexistente, algo se conseguisse fazer ouvir, mas não para estes lados, apenas nessa imensidão tão perdidamente triste, tão perdidamente mortal e tão certamente findável. Receio que nem sequer te consigas somente destacar, que nem sequer vivas um dia mais que seja. Deixaste de ser útil e constante, de ter a dignidade suficientemente sustentável à minha existência. O meu coração e o meu amor, a verdade é que a tua presença meramente inexistente (e se eu conseguir ser tão agradavelmente desagradável, tal como anteriormente o consegui) não assenta numa questão de melodias que te conseguem impor a distância que perspectivas, a relativa frieza entre a fronteira do meu ser para com a tua morte.
Chega, chega mesmo de tanta insistência, chega de nuvens negras pairantes no teu céu que apenas servem para afugentar os meus medos. Não percebes nem consegues compreender que essa tua resistência morde a minha ferida constante? Se se torna tão ridículo, inútil, insuficiente, instável e improdutivo. Corta-o. Perdes para passar tempo, não há outro jogo que saibas jogar. Serves para cobrir o demónio enquanto se calhar te achas apenas uma pseudo réplica deste, mediante o qual és gozado e reduzido. Vives limitado ao cliché da fantasia, ao qual chamas de quotidiano, onde só sabes meramente perder, num retorno de derrota minado de vícios e ideais infundados.
E passar as mãos em algo que não és tu, passar as mãos e sentir a separação abstracta, passar as mãos quando não há mais nada em que tocar. ‘’Existes tu’’, dentro de um buraco negro na minha alma. Enquanto eu adormecia nos teus sonhos, enquanto adormecia embalada numa verdade que nunca tiveste nem nunca hás-de conhecer… Enquanto fiquei apenas pairando, sustentada pela voz da tua alma que não tarda em partir, cantarei no mais frio dos Invernos e tornarei os dias tão suportáveis tal como primeiramente o planeei. Se a tua predominante e rara beleza há-de existir até acabar com a minha vida, abandona o meu lar. Porque se o mundo continua ainda pendente, não será jamais, a tua verdade que me apontará a intriga de tudo aquilo que devia, um dia, ter sido por mim dito. Assim sendo, deixa de me procurar, deixa de me ler.
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