Escrevo para ti que tardas em chegar. E quando olhámos o céu
tudo parecia nosso, como que um sonho que ambos quisemos. Deitamo-nos e o
horizonte foi em partilha. A partilha de um só Sol, de um sorriso e de um amor
que nos pertence. Demos as mãos e o infinito que sentimos finalmente nos
pertencia. O teu cheiro que decorei, o teu toque que relembra tudo aquilo que não
tivemos.
O mundo é nosso. Pedi-te que estivesses bem sem mim, porque ter
todo o carinho é impossível. Não fomos feitos um para o outro. Quem sabe noutra
vida, noutros tempos que não estes. Sei que não estás deitado comigo e que não
é comigo que a tristeza surge. É sem mim, e eu sem ti.
A ausência trouxe a beleza de um se não. Juntos somos terra,
arde rodeada de brilho. De manhã as estrelas ainda nos cobrem e todo o verde da
natureza olha por nós. Pertencemos á esperança daquelas historias únicas, de
cujos autores nunca se souberam nomes. Arte? Não. Pertencemos a uma eternidade
onde nos fundimos e aí sim, somos um. E pode doer, nunca te vi chorar por mim,
nem por ti viste lágrimas. Deixo desvanecer o teu nome em gotas de água sob a
pele gasta da minha inconstância.
Sinto-me viva e não te devo nada. Não escrevo para que
leias, não corro para que não me apanhes. É simples, sempre foi tão linear.
Temo-nos por momentos, temos momentos. E tão só, sem mais. Não acrescentamos
pontos imperceptíveis, nem desfechos repugnantes. Somos tão puros. Só nós.
Encontrar-nos-emos longe daqui. Não merecemos a vida que nos calhou porque
nunca será a nossa. A minha, a tua. Conheço bem as bifurcações do caminho. E é
estreito. Tão estreito, que quanto menos tento, mais nele consigo avançar. Será
diferente, prometes-te. Para quando? Vamos ter coragem.
É aqui e ali. Sonhas comigo, tinha-te dito que era lá que
estaríamos. Sei quem sou, e tu? Perdeste-te, e caíste num vazio que terá cura
em que dimensão? Eu duvido. Duvido da janela que continua fechada, e da porta
que não te vou abrir por estes lados. Fica comigo.
Não esperamos nada do tempo. Não lamentamos por ninguém que não
chega. Já dizia a voz da qual nunca ouvi um suspiro. Ainda respiramos. É tempo
de avançar.
A derrota é momentânea; a vitoria é constante,
quotidiana.