Monday, December 27, 2010

Parar.

Um momento precioso de paragem, em avaliação da situação que se encontra tão pouco divergente. O hoje tão distante do ontem, que ostentava suspiros e que actualmente transcende o próprio inverno. Avaliação do encontro entre duas almas perdidas, que tão pouco ou nada as poderá salvar. Ironia do presente, rasteira do futuro que nos aguarda, passado esse que ainda se encontra vigente e não longínquo, onde deveria assentar finalmente. Prudência, o quanto nos fez rir. Remédios, arrependimentos, lamurias e rezas, uma razão tão inútil e incompreensível. Passagens, discretas e simples, de respiração indefinida e de um sofrimento delirante. Recordo o teu sorriso já sem vida, pulsação inexistente, lamentações forcadas, falsos remorsos, cínica paixão, critica sem fundamento, porque sim. Vida sem ser vida e desenvolvida num envolvimento na vida de outra vida. Redundância, infelicidade, palavras escassas para um íntimo infinito cuja realidade tende a sufocar. Brilho vazio, tendência errada derrama virtude num erro gradual e constante. Ainda sinto o teu toque, frio e insensível, consoante aquilo que sonhavas ser amor. A hora marcou 04:56 AM, acrescenta-lhe os segundos em que me tiraste tudo o resto, soma-lhe todos os minutos de imperfeição, multiplica também por todas as horas de vazio puramente indiferente, vagueias pela noite sem ver na escuridão, caminhas durante o dia julgando que o sol te mostra o passo a seguir. É engano, leste bem. É engano, é o facto de simplesmente não prestares, leres tão bem estas palavras, saberes aos poucos que não me conheces e tudo encaixar em ti. Coberto, vestindo a mentira que te dá o braço, que te acompanha. Delicadamente, com um rasto que poucos descobrem.

Questiona o facto deste ruído ser tão insuportável e durar todas as noites. Não há sono que o vença, não há paciência que o suporte nem há muito mais que o mantenha. É deslizar o dedo. Tão certo como cada letra desta frase ter sido por mim escrita e por ti lida. Reclama, faz-me rir e diz-me que a noite afinal ainda não está a dar as últimas. A tua existência é como que um desgosto constante que se degrada com o passar do tempo, é algo falso e sem salvação possível, é beber mais um copo e saber que não há mais a esquecer. Simplesmente, nada ficou porque nada aconteceu. As nuvens afastam-se numa esperança esgotada em encontrar céu azul, um sol, uma paz. Miserável, resta apenas céu morto, escuro e vazio, onde nunca verás sol nem lua. Terás um mero abismo, diante ti. Ajudar-te-ei não duvides, a fazer a escolha mais certa, a não recuar, a dar sim um passo em frente. Ver-te morrer será desagradavelmente agradável. Sei que não irás voltar a abrir os olhos, pouca diferença fará, ou talvez nenhuma, visto que apenas os mantiveste abertos quando vieste ao mundo. O resto do caminho foi cego, foram chamas por ti criadas que te queimaram por cada vez que o teu coração batia. É lindo olhar à volta e ver que no fim de tudo, nada há. Nem a dizer, nem a fazer, nem sequer a lamentar, nada mais pelo qual chorar, nem sequer pelo qual respirar. O fim sente-se próximo, a vida chorar-te-á novamente a mesma canção, se continuar a ser em Dezembro que as almas dançam, este ano não foi ainda a excepção e enquanto isso cantavas, a chuva insistia em cair e o frio envolvia fraqueza e ingenuidade lá fora. Vem aqui ao pé de mim, agora és apenas alma, toca-me na mão e diz-me o que era amar para ti. Aprendi que seria vencer o mundo, não o mundo a vencer o meu amor. Disseste-me que mantinhas contacto, disseste-me que ias falando, nem que fosse um sinal apenas. Só que não há nada, nem sequer um pensamento. Na janela continua a marca daquilo que escreveste sob o vapor da nossa lenta respiração: "god is dead and shall forever be". E então? Do que te valeu pedir a Deus uma vida eterna se nem certa era essa a tua vontade. O que sobrou, a marca da tua mão no vidro, quando me deito e recordo o momento, sinto o nojo que me invade o corpo, o preconceito daquilo que deixei que viesse a existir. Neurástico se tornou o pensamento, o cansaço é cada vez mais inerente, volta para o sitio de onde vieste, a tua origem, o nada, a liberdade, não no mesmo mundo onde todas as noites terei de adormecer. Tornou-se apertado em demasia para nós dois, sabe-lo tão bem. Sabes todas as canções pelas quais te deixaste embalar, acreditando na sua viabilidade, que sempre foi tão nula e falsa, trazendo consigo um pequeno sorriso meu: "dorme bem". Dorme da melhor forma que conseguires, talvez nunca mais voltes a acordar enquanto continuarei eu sem conseguir dormir, a assistir à tua existência degradante. Mentiras, foram tantas e hão-de ser sempre. Faz uma pausa, olha a janela, ouve o mau tempo que faz lá fora. Mas sai, não tentes sequer ficar. Sai e deixa-me apenas assistir ao teu fim, aos poucos e poucos.

O momento de paragem, o qual ainda à pouco referi, refere-se também a todos os anos de morte nos quais me deixaste viver sozinha e com pouco mais. O céu delimitou uma aura negra que nos cobriu, avalia aquilo que para trás ficou, deixa-me ir, seguir ou não a tristeza que todos os dias me persegue. Não é só o tempo, é também a realidade, a vontade, a energia e a paciência. E se hoje o coração bate tão lentamente, é porque provavelmente já bateu bem mais forte do que devia, é ver um passado atribulado e confuso, baralhado. Não há coerência, e o mundo continua pendente.

2 comments:

Anonymous said...

True.

Anonymous said...

és tão impossivelmente compreensivel.

Embassy Gardens & St. James