Sunday, November 10, 2013

371

Não me venhas dizer agora que o mundo tem muitas cores e com elas programamos o nosso quotidiano, sim tu. Não me canses ao dizer que temos a vida pela frente se até o hoje vem a falhar. Sinto em mim as emoções como se estivesse deslocada do corpo e da mente. Demoro uma hora até casa e dois minutos até destruíres as minhas ideias que são meros sonhos ilusórios onde penso encontrar algum dia a fé; onde penso que há solução para tudo e nunca houve foi coerência.

Perdi-me mais uma vez nos sentimentos que achei ter, a capacidade de flutuar no hipotético ainda não desapareceu, tive a apetência para ousar afirmar que chamavas o meu nome. Não acredito em mais e sempre duvidei, porque sempre soube que não temos nada, já vínhamos sem nada. Não tenho nada. Viemos ao mundo sem nada para sair dele com pouco mais de nada. O dia será o mesmo para todos e ontem avisei-me que ia precisar de esconder a cara. Pintei então memórias em falso, sei que me enganas. Sei que mentes e juras por um mundo cruel que Não o foi.

És inacessível tal como eu era. Também o fui e agora aquilo que sou, sou sem mais, tal como fui. As feridas que não curo, pouco me interessa pois já conheço o sofrimento. A cabeça teima em doer. Estou mesmo farta de ti, e sei que não preciso de ti mas também não sei como me livrar disto e a verdade e que me queria livrar de tudo. De ti, de todos, sobretudo de mim. Carrego tanto que não aguento mais, nem sei se consigo aguentar ou querer aguentar. A vida não foi feita parar mim. Queria poder voltar a nascer e mudar tantas outras coisas que já não posso apagar porque estão inerentes àquilo que sou. Embora não saiba o que mais fazer para disto me ver livre… Tinha planos, tive tantos planos, um lar onde me embalassem durante a noite. Esperei anos pelo acaso, nem sei onde me possa encontrar. Acreditava que aos poucos construía a pessoa que queria ser, até que aprendi que somos aquilo que somos não se tratam de opções, o arbítrio ilusório persegue-me.

Acabei por não optar nem por palavras, perdi tempo e perdi o sorriso. Grito mas não alcanço. E desde sempre que escrevo sobre perda, pouco mais teria de se dizer tão ambíguo. Só há um sentido por agora, a ausência na mesma linha. E tudo o resto, sabes lá tu o que é questionar a realidade e perder-mo-nos na fantasia. Proíbem-me de tudo para no fim saber que somos livres e connosco na verdade estamos apenas nós, tão só. Ao fim do dia o que resta? Memórias e silêncio. E ate estes não estarão la para sempre.

O que é a eternidade aquando o vazio se expande? No fundo até tu sabes que não queres saber, que tens essa liberdade e esse desprendimento de tudo aquilo que quiseres. Amar é desapego, e tu aqui não te prendes. O rio secou, as águas estão escuras e o pecado tenta ser meramente experimental. Tu foste sempre igual, numa bolha de erros e prefiro viver muito mais desligada dessa frequência. Pois daí te peço, lança o resto noutras pessoas, porque chorei por algo que nem me pertence. Sabes o que é ser a mentira? A repetição dos erros, a repetição dos sentimentos, porque no fundo tudo acaba por ser o mesmo, é como que uma semelhança idêntica.

Pensar em roupas, queimar o raciocínio, não temos nada a ver um com o outro, não nos tivemos sequer um ao outro. Que redundância, esperaria meses, anos, se afinal acordasses e fosse tudo como achei que era. Era domingo, e nunca gostei desse dia. Não podia gostar de ti e notas aqui a contradição? Amei-te e não escrevi um quase. Amei-te mesmo, e as únicas palavras com que fico são meras repetições daquilo que o universo já sabia, ora aquilo que temia, supérfluo. Estou a ouvir o mesmo som desde que virei costas, estes sentimentos são familiares, filosofias baratas são o que os dias me mostram, cada vez tenho mais a certeza de que não sou de cá.

As palavras… Quem as transmite é o corpo mas quem as sente é a alma. Sou a mesma, até o cabelo tem a cor daqueles tempos, fios de tristeza, peço ajuda e Deus que não ouve, ou Deus que não existe. Choro por mais ou simplesmente por nada. Hoje deitei-me no chão, senti-me onde não pertenço, sozinha, é como se estivesse contigo ao lado quando dizia que te amava e nos deitávamos juntos, era o mesmo, exactamente o mesmo que te ter comigo ou sem ti estar. Será que Deus morreu? Sempre esteve morto?

Os acordes são os mesmos, julguei que nunca mais os ouviria, passaram anos e afinal não mudou nada, se calhar foi por isso que nos tínhamos de conhecer e de nos encontrar mais uma vez, para que voltasse a ouvir a chuva aqui em baixo. Apenas levitava noutro mundo pleno e até isso me roubaram, até a independência e a lucidez. Embora sem ti estivesse mas em paz comigo e com o mundo, agora que senti que te tinha e embora mera ilusão, já não sei como lidar, nem sei como esperar a vida sem crer sequer que viva.


Não sou de cá, nem tu me preenches, nem ninguém. Preciso de harmonia, de música e de leveza, corri tanto e tenho ido cada vez mais longe, só que esqueci agora qual a direcção lá no fundo, porque esqueci também o caminho de volta.

Saturday, November 2, 2013


Gostei de mim, não de ti e voava por frequências desconhecidas. Apostava que um dia, seria O dia dos melhores dias. Aquele ali, longe de mim e de vez para bem longe.
Só me queria ver livre dos sonhos, das ilusões, principalmente do tempo. Farto-me de ti, farto-me de tudo como sempre assim foi. Não seria excepção uma vez que não contei os dias mas contei os erros, não quis saber das falhas mas não esqueci a agonia. É como me sinto, numa bifurcação. Embora não pretenda optar, nem saídas válidas encontro.
Peço à vida que me dê o mar, o oceano, e a paciência que me carregue pelas semanas a fio, sem ti a meu lado. Ainda me persegues nos sonhos, ainda me convences de que ter fome não é morrer, de que pedir por mais não é pecar e que mentir é somente divergir. Feridas que doem, trago-as e não me deixam. Adormeço e carrego memórias, trago no pensamento as tréguas com o inferno. Borbulham nos céus os ocultos que esqueci, sei que fervem para a plenitude e descem comigo pelo fundo.
De início apenas a questão, quem me nega a curiosidade? No fim, o caos sem respostas. Ficamos pelo caminho, fartei-me de sofrer.
Porém entrego-me tão só, como outrora o disse. Entrego-me na ausência, sei que afinal nem assim me completam, nem assim me protegem. Estamos sozinhos, estivemos a sós para acabar com pouco mais. Era um quase amor cheio de bloqueios cobertos de expectativas. Não havia nada. Não houve nada, perdemos os sonhos e falhámos os planos. Sei do que sou feita e seríamos tudo menos o espelho um do outro, aprendi que ao anoitecer cada um está por si.
Os outros existem na medida em que os projetamos na realidade, essa tão relativa e tão facilmente dominável. Quase sempre acreditei que existíamos, falta o quase. Tal como aquele que quase amei, aquele tempo em que quase fui feliz, ou quase soube que nada por fim sabia. Sorte terás em facilmente seguir a tua vida, sorte terei em manipular as crenças. Será como se nunca te tivesse conhecido, será como se a luz que vi acesa afinal fosse uma vela apagada cujo brilho existiu apenas porque o Sol ali brilhara de manhã. A verdade é aquilo que tu quiseres que seja. A verdade é o consenso e não o contrassenso.
E quando me apetece partir os vidros e tudo o que me rodeia então parto para a escrita. Haverá um dia em que nada se consiga atenuar e tudo sairá destruído mesmo que o tenha construído. Cansei-me das lágrimas porque me cansei de ti. Cansei-me de mim porque nem sozinha mais consigo viver.
Restou-me aceitar o que tenho. Que é nada.

Monday, October 28, 2013

Viria.


O destino não podendo ser o que diziam, é pois o traçar das linhas das mãos? Trocámos as voltas porque a vontade falou mais alto. E que eu não soubesse, seria igual ou pior. Desci em turbilhão, o início começa pelo fundo, ouvi dizer pelos suspiros que o vento trouxe. Pelas noites conseguia dormir, sabendo que os dias passam e que se não estiver atenta passam anos, afinal. O sangue do nosso sangue não acompanha a alma, julguei. Caíram ambos, pelo mesmo momento. Pedi-te que a paciência nos acompanhasse, pedi que até ao fim a linha fosse a mesma.
Vem comigo até breve, perdemos o espaço porque nos deixamos consumir pelas memórias. A água renova-se, lentamente sinto que não somos o que fomos, nem éramos o que achávamos ser. A quebra deu-se até no calor dos nossos corpos, o pensamento vagueia pelos mares do inconsciente, sinto-me a flutuar entre fantasias e sonhos, questiono o bem da irrealidade. Murmúrios, a paz que falta. Os cabelos voam densos e suaves, cheira a fogo e a maresia. Embora o nosso encontro não volte a ser por cá, essa paga que não se apaga, vincou o passado em perversões. Porém, és sim tu quem persegue o vazio, abençoas o anoitecer como se de um cristal se tratasse.
Enfim, são sempre os dias uma novidade. Mais um, menos outro, multiplicam-se os beijos. A fobia construiu-me um caminho de fuga ao passageiro, por ser assim, intenso e forte, cruel e duro mas verdadeiro, expresso num arco de pecados. Avancemos, a luta perdeu-se e pelas ravinas já nem o que sobra aí se encontra. E é como se nem eu soubesse quem fui, quem sou.
Alguém acreditou por mim.
 


Monday, October 14, 2013

Noite vadia

               Pára de contar os dias e simplesmente enfrenta as horas a fio em que a falta traz a dor mas remói o passado, trabalhando para uma parte de futuro resolvido. O sorriso era de ouro e hoje nem os olhos me dizem que sim, hoje a certeza é incerta e daí ninguém se desvia.
               Para quê afinar no tom? O que vai la atrás toca noutra frequência. Parece que acordei das ilusões e questiono a vida que me fizeram, ou a vida que foi feita, ou a vida que fiz, a vida que não vivi ou que vivi em projeção da realidade à qual assemelhei de vida.
               O que quiserem é tão só aquilo que recebem dos deuses. O prognóstico passou em diante e resolvi confrontá-lo com retalhos de objetividade. Assim sei que não podiam agora vir com sugestões hipotéticas porque o que lá está, chega por si só. As vantagens de saber lidar com o jogo, emergem à flor da pele aquando as questões surgem. Usar a mente, não é testar o seu limite. As lágrimas caiem sem que a emoção as chame. Chama-se pelo desequilíbrio do cosmos, que reflete o equilíbrio das águas e a esperança em nós, aquando o bem e o mal se fundem.
               Pensei que escrever bastava, se nem viver afinal é suficiente, então onde procurarei o meu lugar? Seremos daqui? Porém quando tão pouco nos prende porque não fazer disso um todo?
               Falta-nos o chão porque todos falhamos, erramos e mentimos. E é por isso que teimo em contar os dias, como referi à pouco. Conto os segundos, os minutos e as horas. Espero e aguardo, porque sei que aí vem. Enfrento tudo mas não o passado, com o qual já nem posso carregar e maldita a mente, que só devagar se esquece. O futuro, é ter saudades da melancolia. É abraçar a inércia que nunca mais senti e questiono porquê. Influencio-me pela corrente de ar que passa em vão e depois não sei mais o que fazer. Se calhar choro pelo vazio, se calhar acho que vivo e sou algo à deriva. A vida é uma perda na qual se ganha tempo e nem esse nos pertence. Os momentos chegam e connosco levamos o registo causal das energias que por aí ficam. Será? E se o arbítrio é o caminho destinado que alguém sempre soube?
               Não me custa vaguear pelos caminhos, gosto de flores, de lagos e de árvores, gosto da brisa suave da manhã aquando o nascer do Sol. Adoro as tardes quentes, pensar na existência e no amor, observar a Lua, sentir o sabor, abraçar o calor. Sinto a pulsação indicadora da Natureza, da criação e do fogo.
               E quem é que estima a vida? Quem é que estima a oportunidade de ver pelos seus próprios olhos, ouvir diretamente na sua cabeça e sentir somente com toque. Lembro-me que não deixei o caminho, mas sim optei por que certas pessoas deixassem dele fazer parte. Foi isso que me enfraqueceu e fortificou. São as bifurcações da vida. Não condeno as estradas vazias pelas quais vaguei, não censuro sequer os mapas errados que me deram. Os troços são feitos com um propósito e é esse que em tudo está presente.

               Sinto-me cansada, andei demais. Se é que andar alguma vez poderá ser em demasia!

Wednesday, August 21, 2013

Season

Pensei, em monotonia. Constato que o jogo estaria seguro enquanto arrisco em trocar papeis.

Outrora o mar parecia-me em paz e em mim presenteei a bondade. Compreendi por fim que tudo me escapa das mãos sem que passem luzes pela frente. Julgo que quem peca me deixa ofuscada. Ora e é assim que dói, abandonaste o que de melhor tinha e sofreste pelo que nunca tivemos. Sentia-me tua e o conto foi o mesmo, outra vez. Aquela história de eternidade, afins monocórdicos que me cansam. Porém, a roda segue em diante! Teima em espirais contorcidas de nostalgia. Olho-me como ser humano e as direcções são as da realidade que projectei no mundo da cor que os meus olhos veem. Olhos esses que iludem; afligem-me até nas questões que não colocas.

Não concordo nem aceito as pausas do sono. A tua condecoração face à ignorância sempre repousou a meu lado, onde fechei os olhos e por mais te continuei a encarar. Sinto aquilo que penso embora não vá pensar aquilo que sinta, as contradições do acaso trocaram-me as escolhas. É sempre em vão tentar-te, nascias pelo outro lado do universo, onde seria impossível que nos cruzássemos.

Leio-te o silêncio, até aí ausente a perspicácia. A vida coloca-nos o corpo para Sul e o caminho sempre foi para Norte. O calor que vem do Sol aquecia-me os dias enquanto estavas longe mas nem assim vi alegria. Parece que me consumiram a alma, não mais houve pertença. Não perdoo, nem quero que perdoes, não esqueço e não quero que esqueças. Desculpa pois a ansiedade, desculpa a precipitação, desculpa os erros enquanto te procuro, desculpa-me a falha, e como é que consegues? Desculpa, e como é que consegues mudar um rumo que já se perdeu? Perco-me em vultos de nada.

Sei que o voltar costas pertence a todo o ser. Não me enganaste porque as tuas palavras eram contraditórias aos teus olhos. Aquilo que dizias chocava contra aquilo que transmitias. Eras transparente, e ao contrário do que me ensinaste imoralmente, brindei feliz à tua hipocrisia. Enfim pois, até lá sei que a pressão te controla e não saberás ser esguio como fui.

Agora que cá estamos, pergunta-te se foi a vida que quiseste. O que com outros partilhas, os sonhos que se perderam com essas chuvas turbulentas, só havia violência, levaram-nos tudo e então? Ficaríamos assim para sempre. Ou tens em mente que podíamos estar separados? Os dias parecem meses e os meses parecem segundos, confundo o tempo, as minhas palavras também se trocam. Acreditei mais uma vez nas estrelas, e esqueço-me do arbítrio e dessa vontade que nasce por aí além.

É como quem salta para um barco já furado, na expectativa de o reparar. Talvez tenha entrado água a mais e embora o destino seja óbvio, tudo o que acontece é inevitável. Em vez de ires ao fundo, parece que agora seremos ambos a descer. Afogamo-nos no silêncio porque iremos os dois ficar sem destino.


A noite é breve ao anunciar a tua chegada, não te espero nem tão mais te observo porque até o meu olhar gastaste. Falhei tudo aquilo ao qual chamei de vida. E no entanto, não o quero sequer para mais um só dia mesmo que o tivesse. 

Wednesday, July 17, 2013

Ensaio 2

Não sei se a vida que começou por nós estava acabada devido aos outros. Os outros que nos corrompem as noites e nos impedem de ser selvagens como quem nasce. Pergunto-me se me voltavam as costas por impotência, ou se seguia o caminho errado. Obedeces porque pouco tentas, o que significou para todos os níveis que apenas um existia enquanto te observava de início.
A face encarava os dias e acordava gasta, sem mais temer. Os meses afinal foram dias, tantos quantos os anos que não tivemos. Pequei e tive sonhos dos quais todos duvidavam, sempre soube que o cerne me traria a felicidade.

Quem não nos vive, não nos entende. Foi o mesmo momento que nos uniu, esse mesmo que poderá acabar connosco, agora insuficiente. Visto a cor roxa por ter a consciência limpa de dor, não me preocupa de certo a loucura que nem tenho. Refúgios no vício deixaram-me perder o que podia estimar e perdoar por gosto. Quem sabe, meras escolhas.

E eu não tinha nada por perder, tudo o que desejei adormecia ao meu lado, persistência constante e nem sono tinha. Quis provar a frustração e desaparecer.
Acreditei nos sonhos e na pessoa que me vive, mas vivo dos momentos e do mar. Casa comigo na frequência do amor, onde há música e Natureza, não precisamos de mais.

Esta noite dançámos até amanhecer, cansa-te o corpo assim como a alma, não páramos em guerra. Ferves os olhos e aqueço-te a boca pois provámos os pecados um do outro. Sendo tarde, enrolei o passado nas correntes da projeção de um ser que foi meu. E o ser de cada um é relativo, o que é que me pertenceu afinal? Se é que já não seríamos um do outro.

Andamos às voltas, e os dias dão muitas voltas e as voltas dos nossos minutos aceleram-nos a pulsação. Não aprendi o que era amar e agora sei que é construtivo e produtivo, a roda que gira e as metas que se formam.

E para mim não chega ver somente os lagos aquando um oceano te quero dar. É como caminhar entre as árvores e planear mais do que uma floresta, é saber que temos o mundo e nem sequer o universo me satisfaz. Porque sinto mais, preciso de mais, quero mais, vivo por mais, amo cada vez mais e planeio um todo por mais, desejo mais, sendo que tu és tudo e tanto mais.
Pairam em mim loucuras por ti, envolta no amor que me deste e aceito que és soberbo porque só assim sabes ser. Contigo se não havia meio termo pois certo é que as peças se unem e quero-te mais.
Somos assim, algo primordial que não vem de hoje.

Quando brilhas, nem aí fecho os olhos. 

Ensaio 1

Sabia que a vida não esperaria por mim mesmo que lhe pedisse, assim como o tempo não pausa aquando um súbito travão.
É subjacente ao decurso a continuidade. Mas ela não o é em todo, é uma especificidade que contorna as almas e os corpos. Orientações não são ordens e se fossem até a Fortuna mudava o tom. Quero o vento, quero os mares, quero as ondas sonoras, quero o céu e as tempestades. Quero o caminho da vida embrulhado nas perdas da vitória.
Nem sequer receio horizontes desconhecidos! Não temo a frustração nem os pesadelos, nem sequer a morte.

A fauna e a flora acompanham o compasso, é tão natural que as águas sejam paralelas. Acho que provei a perfeição e desconfio que a sorte brinque comigo. Suspeito que me testem a sabedoria, dando-me por agora aquilo que não voltarei a encontrar. Por consequente, encaminham-me o fim e enfim, não aceito nem me sinto capaz para tal. Vivi ao limite e não sei lidar com a queda, é portanto demasiado alta. Olhei o mundo em redor e acreditei que seríamos diferentes, acreditei não só por ingenuidade mas por pureza e por tudo o que te dou ser genuíno. 

Se a vida tinha começado então porque é que acabaram com ela? Assim fechei os pecados a sete chaves para que me roubassem o resto. Podia nunca mais voltar a viver sem ti, é tão certo. Nunca quis repetir aqueles versos, escrevi as páginas e encerrei o conto. Queria que tudo ali ficasse, no tempo, na frequência. Que fossemos diferentes, que fossemos um passo em diante. Onde o mar se unia com o céu, no horizonte pairavam os nossos nomes. Vi contigo as estrelas, beijámos a areia e louvámos o amor. De ti não me despeço porque tanto te amei que prometi que voltaríamos a ser um só. Volto a ti, e tu a mim, fora do padrão dos deuses onde o livre arbítrio nos encaminha um para o outro. Ainda sinto o resto de tristeza que me invadiu, ergui a flecha do orgulho e foi aí que soube que não perdi rumo. Razões não chegam e no entanto nem quero que sim, virei as costas à lógica. Se não investires naquilo que a longo prazo desejas não verás as velas ao fundo, que queres que ardam sem apagar. Verás cinzas e pouco mais, feridas do passado.

E só podia ser contigo. Porque se não fosse, não era nem havia. Não sabia, não sentia, não acreditava, nem amava. Os eixos propõem: vivemos ou deixamos para trás. Sinto como que um dever natural, espontaneidade em demasia. Ter vontade constante, não ficar por aqui. É amar e viver para mais, a teu lado e contigo. Se antes não havia sentido, agora parece-me iluminado, claro e óbvio, por seres tu, que és tão tu e somente tu, esse alguém que é amor, música e natureza. Alguém que ao inicio dos dias e ao começar das noites, é vida.

Wednesday, June 5, 2013

F

O mar está calmo, parece que nunca saímos do mesmo sítio. As ondas desenrolam-se assim como a nossa história também se tem vindo a redigir. Pelo vento, pelos movimentos orquestrais dos pássaros que voam, pelo sol refletido na cor cristalina das águas, por linhas de caminhos que temos amado, por tudo isso e cada vez mais, brindo ao oceano com felicidade e digo ao mundo o quanto te amo.

Não preciso de rezar por nós, desliguei-me do passado e sintonizei a frequência onde pairavas, onde emitias radiações correspondentes. Conduzes rápido e sabes que te observo em diferentes perspectivas, é possível que me vejas em campo periférico sem que me encares. Consigo lembrar-me. A tua pele cada vez está mais intensa, encaixas em mim como ninguém mais. Diz-me o que escondes, enlouqueço pelos mistérios que o Verão nos oculta. E é isto de ser feliz, é estar presa e querer tudo o que tenho por te amar num todo infinito conjunto à Unidade.

Os meus lábios estão gastos de te beijar mas por amor não páro, imagino quando voltar a acordar e a ver o brilho dos teus olhos! O quão bonitos são os animais à nossa volta, sinto-me como que a fazer amor com o amor, amando por amar, saber que te amo e assim amar-te. Parece que ouço a música das nossas noites, dás-me tudo e não me importo que se saiba. Chama-se promessa, lealdade e confiança. O que nunca conheci acordou a meu lado no mesmo sítio onde ia somente adormecer. Ironias da nossa cidade, já consigo ver a ponte lá ao fundo.

Somos a exceção um do outro, somos o que não víamos, somos o que precisamos porque tivemos o resto mal resolvido. É legítimo confessar-te que conheci o mundo errado, e quase quebrei a rota do encontro por desleixo. Feliz ideia aquela de ceder, mais uma vez desejar o que vier que venha. Vesti-me é certo, só que para ti sei que fui quem sou.

O sabor da fruta pela manhã, a fragância exótica de cor escura e vermelha, saborear o doce silvestre e a minha boca não aguenta por mais! Derretes-me com um olhar, e sei que tudo aquilo que desejares proporcionar-te-ei. Agradeço pela fusão das nossas almas, encaminhas-me a energia. Até o teu cheiro é fresco e leve.

Maresia entre o calor da areia e a brisa da praia que por nós chama. Ouço até as conchas, os búzios, ouço a Natureza e esqueço o tempo. Sei que me observas enquanto ingiro o último pedaço, lentamente como quem morde os lábios. Não te deixo sem mais, presenteio-te ao entardecer com chocolates, cafés e cerejas. O nosso mundo vive pelo gosto, vivo do prazer, vives da alegria, vivemos o auge em órbita.

Tocas enquanto canto os versos das manhãs em que juntos acordamos, já planeio o pôr-do-sol, o pleno Inverno, o campo selvagem onde passeamos. Não sei se flutuo pela paixão das nossas vidas ou se apenas visualizo alguns erros naquilo que me transmites. Mas sei que não falhei, muito menos me enganei quando no teu espaço me encontrei e por lá me deixei. 



Sunday, June 2, 2013

Asleep

Imagino-me com o teu silêncio embora saiba que estou no paradoxo por não o ter. Talvez não o aceite.
Dizes-me para olhar pela janela enquanto o compões para outra pessoa que não eu, também não me revejo nisso. Mentiam-te por desamor, travaram-te vitórias e nem por isso gritaste, ainda consideras ter sido por haver algo num olhar profundo?

Realiza, concretiza e conclui. Faltou a elevação se mais não havia. A história não se repetiria e deixa-me que te diga o caminho, não digo que o saiba mas que já estava nele antes.

Thursday, February 14, 2013


Soube que aquela tinha sido a última vez em que juntos nos abraçámos envoltos pela multidão onde também começámos. Foi por ali que nos unimos e será ali que nos tentam separar e esquecer. Sei que por nós ninguém levantaria uma voz, muito menos avançariam um passo. Sei que, nem por mim nem por ti, apostariam sequer um suspiro ou uma palavra. Não somos nada aos olhos da certeza. Nem seremos ninguém ao rumo da sorte, mas já nem o azar nos acolhe. Perdemo-nos na confusão e no barulho da mesma música repetitiva, cujo tempo já estagnou e pela criatividade já ausente. A incógnita que questionávamos desenrolou-se sem que déssemos conta. E agora é tarde? Disseste que os vícios eram complexos de integração. Disseste que a afirmação de uma vírgula tinha como fim a atenção alheia. Não pequei, outrora consciente e certa de que falhavas, assim me mantive. Vives na cegueira da mente. E o paradoxo diz-me que não tens o domínio daquilo a que chamas vontade, não tens o conhecimento daquilo a que chamas sabedoria.

Não concordo que seja tarde, porém. Não compreendo a serenidade do espasmo pelo rancor de uma fantasia passada. O futuro esconde somente a concretização de um presente desenvolvido. Desdobra, sim, o que observas por agora. Não perspectives o mundo hipotético onde não estás, não sorrias por tudo aquilo que podes ter porque não o tens, digamos. Não jogues com palavras quando não sabes quem te espreita, quando não sabes ser o julgador que observa e impõe. Fixo a perpendicular, quando voltas a dizer-me ser tarde.

Será então? A manhã passou e apareci depois, como sempre. Fomos sentar-nos ao sol e ponderar a vida. Sabia que já ali tinha estado com outro amor a discutir o mesmo. E não adianta. O erro é repetir. O erro é tão só virar o rosto para olhar igual, forçar o que não é. Sou o refúgio da tua frustração e já disso não poderás duvidar. Talvez a única coisa certa que ambos em silêncio sentimos. Passaram anos, e é agora que queres começar. É triste conjuntamente contigo, concretizar que não tens nada, não temos nada. Aquilo que construímos foi tão passageiro e pontual que nem somado existiria.

Já não procuro escrever-te grandes parágrafos pois o argumento pouco mais se estende. Ainda aqui estou mas os textos encontram-se por finalizar. Pensar e criticar, lamentar e silenciar. São os únicos sinais que te deixo quando parto. E já há tão pouco para tudo. Não suporto fardos sem fé. Não conduzo milagres credíveis na ignorância alheia.

E haverá quem queira pôr termo à história? Não duvido que sim. Se nestas linhas não escreverem, quem sabe não seja permitido. O escopo da frente diz-me que ainda há mais. Saberia sentir-te se predominasses em mim. Dói suportar a distância, só que não tolero a tua presença. Não aceito que seja tarde, não aceito que insistas. Escassos os dias em que te aguardo, ou nenhumas as horas em que te quero. Apenas desejo aquilo que não posso, e hoje tive tudo aquilo que não pude. Pelo que podes partir, só mais tarde verás o resto que tenha de vir a ser escrito.

Thursday, January 24, 2013

Imagine If


E é tão mais tarde do que aquilo ao que estamos habituados. Quase seis da madrugada ou por aí tao perto. Enquanto ainda nos uníamos por motivos inválidos, ou que nunca existirão. Sobre as horas disseste, que nada restava. E era suposto perdoar-te o quê? A atenção que não me dás? O valor que não tens? A posição que não ocupas? Já nada por ti perco. Já pouco ou nada sei. Por ti nem por mim me movo, aquando me dizem para avançar. Não valeria a pena, se calhar porque também tu nunca questionaste meras pretensões.

A tua vida: ilusões, monotonia e infelicidade. Já nem recordo o tom da tua voz assim como esqueci as promessas que tão gastas ficaram no caminho que nos persegue.

Não sei se ambiciono o que descansa pela nossa pendência. Já não sei se é em ti que o sentimento e a dor se fundem. Não idealizo, porém, estátuas quebradas em nosso nome pois não sei sequer, se, também nós somos imóveis aquando o passar do tempo. Por isso, não guardo carência ou rancor por uma marca na realidade dos demais, marca essa que, imaginemos, fosse traduzida num presente constante. Prefiro que, sejamos tal como o vento. Passageiro e efémero, que por todo o lado oscila, brando ou tempestuoso, mas sempre em movimento. Ainda que, por vezes nem sequer exista. Ou que não se dê por ele, assim como por nós não dão conta. Por tantos minutos em que nos perdemos, por tantos sonhos que não vivemos, em tantas lamentações que por ausência vão ficando. Suspensos. Não temos nada. Sei que o adeus já menos se aproximou, e que hoje toca aquele chão que vou pisando, enquanto respiro a certeza de um final ao qual sempre resisti. Tenho saudades tuas. Mas a vida nunca nos prometeu felicidade. Não nos enganou, é certo, sim? Se calhar viste sinais onde o nada persiste e não existe, palavras silenciadas ou quem sabe, textos inacabados, cuja autoria não fora a minha.

Já nem ouço o bater dos nossos corações. Aquele teu ritmo falhado que não acompanha o meu. É de dia que se vive, e os dias não mais nos esperam. Sabes o quanto custa aceitar a perda? Como que uma despedida intemporal, sem datas que a marquem. Algo certo mas indeterminado. Não somos fortes, falhámos a oportunidade, falhámos pelo destino. E tão só, hoje junto as peças: nem me saudas quando regressas, nem um adeus quando partes. Prefiro achar que tudo está bem quando sei que nego a possibilidade de algo mau estar a acontecer. Não está e quem sabe jamais, antes estivesse. Antes a arrogância, o ciúme e a raiva. Do que um virar costas, um desprezo. Só e apenas tal vazio. Aliados ao silêncio e ao pranto incapaz. Já não te ouço, eu não te consigo ouvir, qual ausência. Onde é que estás? Onde ficaste tu enquanto te chamo e lamento? Quase te amo. E embora seja certo que não te vá gratificar de futuro, reconhece que a eternidade não nos pertence, mas integra-nos. E o concilio das almas reuniu-nos um dia, a hora estava marcada. Desde aí, que não vais ser tu a acabar connosco visto que algo, ou alguém, já nos deu o mundo.   

Tuesday, January 8, 2013

Rascunho

Contigo sinto-me em mim, sem ti sinto-me sem mais. A perfeição ganhou existência aquando nossa união. Presentei-o os dias com uma constância que não terei. Impeço-te de falar porque já nem o silêncio corrompe. Não mintas por tanto se nada me dás. Agradece pelo que foi e nunca pelo que se especula. Sempre soube que a nossa energia era una e que o nosso caminho era certo. 

Fizemo-lo com compaixão e não pela vontade que temos, e ainda a temos. Revejo dons em ti que outrora vi em mim. Não os admiro, mas lamento que embora tão grande, vejas por tão pouco no pecar diminuto. E o tempo dir-te-á o quão errado estás. Esse tempo ao qual viras as costas enquanto não te surpreende de frente. Nem eu venci. Escolhi a felicidade, mesmo sabendo que nunca a conheceria. 

Os brilhos à volta que não importam, as sombras que perduram com o passar do vento, a suavidade de uma respiração pela manhã - no momento certo revi as horas. Tenho-me apercebido que passaram meses fazendo com que se registassem anos, afinal. Ora, e quem o perdeu e negou? Quem o viveu e suportou? Assim se carregou somente. O peso da dor no pensamento, no sentimento, no esquecimento dum só tormento. Pois querer-te-ia dizer que basta, para já.

U


É sentir o pulsar do mundo no próprio corpo. Como se cada onda sonora fosse visível e palpitasse ao longo da pele. Ser parte integrante daquilo que é um todo. Sentir como se fosse. Ser como quem sente. Voar pelos horizontes desenhados sem que haja cansaço. Correr milénios de história em pensamento. Uma mente que viaja à velocidade do tempo. Ouvem-se as batidas do coração da vida juntamente com a leveza da alma.

Dar e receber, receber e dar. Saber que o Universo não é um apenas. Saber e estar consciente de que o infinito somos nós. E nós somos o infinito. E a eternidade aqui nos bate à porta todos os dias. A última chamada. A última madrugada. A última noite. Não percamos o fio. Se não há fim quem procura inicio? Deixa-te ir. Até onde haverá vontade? Deixa-te ir. Defines prioridades ou escolhas? Deixa-te ir. Perdes-te no tempo? Deixa-te ir. Apenas o Divino semeia o Destino.

Já se tocou por muito mais. Adormecem os que restam como se agora acordassem. O plano daqueles que vagueiam começa hoje. Perspectivar foi passado. Agir é presente. Pregas a fundo, a batida voltou á Terra. Vives, pensas e sentes.  

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